Direito e Inovação: qual papel de uma assessoria jurídica num contexto da transformação digital

Você que deseja abrir uma startup ou quer inserir sua empresa na transformação digital já pensou na relação entre direito e inovação? Pois saiba que para inovar não basta uma boa ideia. É preciso estar em conformidade com as leis sobre direito digital e direito da inovação, bem como aproveitar dos benefícios que a legislação traz para as empresas e a sociedade.

Sabe-se que, atualmente, o uso de tecnologias e a adoção de medidas de inovação são essenciais para qualquer empresa que queira se manter competitiva no mercado. Pensando nisso, o Direito da Inovação visa responder a essa demanda do mundo corporativo, considerando as ações estatais de fomento à inovação.

Nesse contexto, a Lei da Inovação (Lei nº 10.973/2004, alterada pela Lei nº 13.243/2016) trata sobre os incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. Ela visa estimular o desenvolvimento econômico por meio de ações que facilitem as parcerias entre as empresas e as instituições de pesquisa. Algumas das principais medidas são:

  • estímulo à construção de ambientes especializados e cooperativos de inovação, envolvendo empresas e ICTs para atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica;
  • estímulo à inovação nas empresas para o desenvolvimento de produtos, serviços e processos inovadores, por meio da concessão de recursos financeiros, humanos, materiais e de infraestrutura;
  • dispensa de licitação para contratação de produtos ou processos resultantes das atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação;
  • instrumentos de estímulo à inovação nas empresas, como subvenção econômica, financiamento, incentivos fiscais, fundos de investimentos, fundos de participação, dentre outros.

Tendo em vista, portanto, a importância da relação entre direito e inovação, vamos tratar de alguns dos principais pontos sobre o assunto. Sabemos que é normal o empreendedor ter dúvidas a respeito, já que há muito material sobre o tema, e por isso separamos, neste artigo, os seguintes tópicos que você precisa saber:

  1. Blockchain e Direito
  2. Análise jurídica sobre bitcoin e criptomoedas
  3. Transformação digital e Direito

Boa leitura!

1. Blockchain e Direito

No contexto da transformação digital, um dos tópicos que não podem ficar de fora é o blockchain. Uma das principais inovações do mundo contemporâneo, essa tecnologia revolucionou o mundo dos negócios e o sistema financeiro. Ela está intimamente relacionada às criptomoedas, como o bitcoin, já que é a tecnologia que está por trás das moedas virtuais.

Traduzida para o português como “corrente de blocos”, a blockchain funciona como um livro contábil ou um banco de dados, no qual todas as transações realizadas são registradas e armazenadas em vários computadores ao redor do mundo ligados à rede.

Cada bloco dessa cadeia contém um conjunto de transações, sendo protegido por criptografia e conectado a outro bloco por um código único, chamado hash. A blockchain é pública (toda transação é visível para os usuários, mas eles não podem saber a identidade dos envolvidos ou outros detalhes), gerando uma espécie de livro compartilhado.

Diante disso, você deve estar se perguntando: e isso é seguro? Muito! Isso porque, com os códigos criptográficos de segurança e cálculos complexos para gerar os blocos, é praticamente impossível alterar, remover ou fraudar uma transação inserida no sistema. Isso necessitaria da alteração de toda uma cadeia, ou seja, seria um trabalho infindável, o que cria fortes obstáculos contra ações de hackers.

Além de segura e inviolável, a blockchain também tem a vantagem de não precisar de um intermediário, como um banco ou outra instituição financeira. Assim, duas pessoas podem realizar transações entre si sem a necessidade de terceiros para gerar legitimidade ao ato. Isso facilita as transferências digitais de valores entre as pessoas, sendo muito atrativo para as transações financeiras de empresas.

E a tecnologia não se aplica apenas às criptomoedas. Nas questões jurídicas, por exemplo, a blockchain e o direito podem se relacionar de várias formas com diferentes aplicações, como:

  • autenticação digital de documentos jurídicos, como contratos;
  • formalização de contratos inteligentes (smart contracts), por meio de assinatura digital e acesso online, garantindo proteção de imutabilidade dos documentos e evitando fraudes ou adulterações;
  • registros de propriedade intelectual, atuando na identificação e comprovação da origem e autoria de uma obra e contribuindo para o combate à pirataria.

Por fim, vale destacar que é preciso ter cuidado com as implicações jurídicas das blockchains. Para garantir a validade do negócio jurídico com uso de blockchain, deve-se considerar as normas do Código Civil e seus requisitos, como, por exemplo:

  • a capacidade do agente;
  • a licitude do objeto;
  • a forma prescrita ou não contrária à lei do negócio jurídico;
  • a integridade dos termos contratuais;
  • a identificação das partes signatárias.

Tudo isso dará segurança jurídica ao empresário que adotar a tecnologia.

2. Análise jurídica sobre bitcoin e criptomoedas 

Agora que você entendeu melhor sobre a blockchain, é importante entender o ponto de vista jurídico sobre bitcoin e criptomoedas. Bitcoin é uma moeda virtual criptográfica, que não é gerada nem emitida por governos ou por uma autoridade monetária nacional. São os próprios usuários, sem intervenção de terceiros, que legitimam a credibilidade dessas moedas.

Contudo, a Constituição Federal determina que é competência da União emitir moeda, devendo a atividade ser exercida pelo Banco Central. Além disso, as regras para emissão de moeda estão estabelecidas em lei específica, a Lei nº 9.069/1995.

Nesse sentido, como, então, é possível entender o bitcoin como moeda virtual? Na verdade, apesar de chamarmos de moeda, já que ele assume essa função, o bitcoin não é definido juridicamente dessa forma.

Como vimos, para ser moeda, ela deve ser definida em lei e regulada pela União, o que não é o caso da moeda virtual. Além disso, o bitcoin se diferencia de outras moedas por ser digital e baseado em um sistema de código aberto e descentralizado.

Sob uma análise jurídica, o bitcoin seria, então, um bem móvel e incorpóreo – diferentemente da moeda, que é um bem corpóreo –, utilizado na troca de bens e serviços.

Como o bitcoin e outras criptomoedas consistem em um fenômeno muito recente e inovador, é preciso considerar que ainda não há uma regulamentação consistente, sistemática e específica. Ainda há muito a ser feito para evitar o uso da moeda no mercado ilegal e condutas ilícitas, para regular aspectos tributários e garantir os direitos do consumidor, dentre outras consequências jurídicas.

Por isso, para assegurar segurança jurídica às transações realizadas com bitcoin enquanto não há legislação específica, é preciso considerar o ordenamento jurídico existente e sua aplicação à moeda virtual.

Nesse aspecto, pode-se considerar o bitcoin conforme as regras e os requisitos de uma relação contratual de troca ou permuta, dispostos no Código Civil. Isso significa que se trata de um contrato bilateral (cada parte tem direitos e obrigações), oneroso (um bem recebido implica um sacrifício patrimonial) e imediato (produz efeitos jurídicos com a simples declaração de vontade).

3. Transformação digital e Direito

Com o avanço das tecnologias e a digitalização do mercado, as empresas têm sentido cada vez mais a necessidade de se adaptar à transformação digital. Seja nas startups – modelos de negócio inerentemente disruptivos – seja nos demais tipos de empresa, esse fenômeno tem profundo impacto nos negócios.

Por isso, é de extrema importância aderir à inovação e à transformação digital para ganhar competitividade e melhorar os resultados. Para tanto, é preciso adaptar seus produtos e serviços à nova demanda, renovar seus modelos de negócio, criar uma cultura de inovação, ficar por dentro das tendências de tecnologias e ferramentas digitais, dentre outras estratégias.

Com a inovação, as empresas conseguem melhorar os resultados, por meio de medidas como:

  • otimização de tarefas, que gera redução de custos e de tempo;
  • metodologias ágeis, que reduzem a burocracia e aumentam a eficiência e a produtividade;
  • dinamismo nas operações, respondendo melhor às exigências do mercado;
  • aumento das vantagens competitivas, saindo à frente no mercado;
  • foco na experiência do consumidor, gerando clientes mais satisfeitos.

E aqui também não se deve negligenciar os aspectos jurídicos da transformação digital. A área do Direito pode oferecer muitas contribuições para ajudar uma empresa a se inserir nesse processo.

Por exemplo, uma startup que deseja lançar um produto ou serviço no mercado precisa respeitar as normas de vendas, produção e comercialização, deve fazer um planejamento fiscal e tributário e, ainda, efetuar o registro de marca e/ou patente.

Nesse contexto, a importância dos aspectos jurídicos na transformação digital das empresas também está relacionada ao Direito Digital e às implicações jurídicas sobre as novas tecnologias do mercado. O empreendedor deve estar atento a uma série de questões, como:

  • contratos de tecnologia, como cloud computing e gestão de dados (big data);
  • ações judiciais relativas à violação de direitos da internet;
  • políticas sobre funcionamento e uso de negócios digitais, como e-commerce;
  • política de vendas pela internet;
  • segurança da informação e proteção de dados;
  • responsabilidade civil por atos praticados na internet.

Conclusão

Como você pôde ver, direito e inovação devem andar juntos. Inserir-se no processo de transformação digital não é apenas uma obrigação para as empresas, mas uma excelente oportunidade para usufruir dos benefícios proporcionados por recursos tecnológicos e soluções inovadoras.

Contudo, não adianta inovar sem planejamento e muito menos sem os devidos cuidados jurídicos. Ferramentas recentes e revolucionárias, como a blockchain e as criptomoedas, que abordamos aqui, precisam de uma cautela ainda maior.

No Brasil, a legislação e as regulamentações sobre inovação ainda são escassas e pouco claras. Por isso, o conhecimento aprofundado do Direito Digital e de outros ramos é crucial para que as empresas se resguardem juridicamente e evitem incorrer em erros que podem acabar arruinando o negócio.

Além disso, para entrar na transformação digital não basta apenas usar tecnologia. É preciso ter ações estratégicas e, ao mesmo tempo, em conformidade com a lei para conseguir um desenvolvimento saudável no mercado.

Portanto, lembre-se de inovar com o devido suporte legal. Uma assessoria jurídica especializada pode ser o diferencial para você impulsionar a transformação digital do seu negócio, sem deixar de lado as questões legais relacionadas a esse contexto.

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